segunda-feira, 16 de abril de 2018

O UMWELT E A ESPÉCIE HUMANA

O UMWELT E A ESPÉCIE HUMANA


A espécie humana tem um dos Umwelten mais complexos que conhecemos. A espécie Homo sapiens surgiu há uns 100 mil anos atrás com a subespécie neahandertalensise somente há 30/40 mil anos surgiram as pinturas em cavernas, apontando para uma grande atividade simbólica feita pelos Homo sapiens sapiens.

Desenhar em cavernas não é uma simples atividade artística, ou melhor, é uma  atividade por demais complexa. Há uma elaborada sofisticação em colocar para fora do cérebro, daqueles homens pré-históricos, as imagens que existiam  apenas no pensamento de cada um deles. Os estudos indicam que a linguagem verbal falada já era suficientemente bem elaborada, o suficiente para terem uma atividade simbólica também complexa.

Parece que o próprio Umwelt começa a se configurar externamente, de forma objetiva, permitindo o  compartilhamento até mesmo das imagens mentais com outros indivíduos.
 
Caverna francesa Chauvet-Pont d’Ar (36.000)
Desde o surgimento dos Australoptecíneos (literalmente macacos do sul), há 2,75 milhões de anos, há um aumento da caixa craniana que vai dobrando a cada milhão de ano. 


Australoptecíneo 2,75 milhões de anos

Isso se observa no gráfico abaixo que utiliza as medidas de volume craniano de fósseis relacionados à origem do gênero Homo.
Aumento da capacidade craniana nos hominídeos
(y = centímetros cúbicos ; x = milhões de anos)
Não é difícil perceber que essa curva tende assintoticamente ao infinito. Portanto do ponto de vista biológico haveria um limite lógico a essa expansão. O fato que muitos os estudiosos apontam é que as informações passariam a ser armazenadas extra-somaticamente, isto é, fora do corpo. Assim como há 30/40 mil anos o Homo sapiens começou a desenhar em paredes de caverna, há 4/5 mil anos começou a inscrever em placas de barro cozido, informações a respeito de rebanhos, contabilidade de mantimentos, etc. Era a escrita cuneiforme (em forma de cunha) que fora inventada, e a partir da qual houve a enorme expansão da memória extra-somática que temos observado: bibliotecas, computadores, internet...

Pinturas Rupestres há 30/40 mil anos 

Revolução Agrícola há 10/12 mil anos

Placa de argila com escrita cuneiforme há 4/5 mil anos.
Assim parece que a Dilatação do Umwelt é uma tendência do processo evolutivo da espécie humana de modo que cada vez mais iremos experienciar o aumento da quantidade de informações, o desenvolvimento de uma memória extra-somática que se torna cada vez mais complexa. 

Graças ao trabalho de paleo-artistas, é possível a reconstituição dos aspectos visuais de hominídeos já extintos. E objetivamente se alguns deles cortassem o cabelo, e colocassem um chapéu para esconder a proeminência de seus supercílios, seria possível encontrá-los em qualquer ônibus por aí, e nem perceberíamos sua diferença com os atuais seres humanos. Abaixo um pequeno vídeo apresentando o trabalho de um desses paleo artistas: Viktor Deak
O que nos interessa é que as ferramentas fabricadas pelos seres humanos são mesmo extensões do corpo humano como dizia o Marshall McLuhan em "Os meios de Comunicação como Extensões do Homem". Ou como anteriormente dizia Jacob von Uexküll, quando citava microfones, auto-falantes, dentre outras ferramentas.

Mais detalhes você pode encontrar nos slides das aulas a respeito de Evolução Humana e Umwelt.

https://drive.google.com/open?id=0BwRKMh2WAMEUME4xTUVFTVFNdU0

terça-feira, 3 de abril de 2018

BIOSSEMIÓTICA E UMWELT

BIOSSEMIÓTICA E O UMWELT


A Teoria do Umwelt (alguns preferem chamar de "a Umwelt" pois na língua alemã é feminino (die Umwelt) foi elaborada por Jacob von Uexküll.




Umwelt significa "ambiente", mas no caso dessa teoria trata-se do ambiente como ele é representado  na mente dos animais 
Assim o Umwelt (acho esquisito escrever "a" Umwelt, fica parecendo confusão de alemão falando português) é uma espécie de "Mapa Mental" do mundo que existe à nossa volta. Esse mapa mental não precisa ser exatamente igual ao mundo, mas bastaria que ele fosse coerente do ponto de vista sistêmico. Seria como um display interativo com o mundo ele mesmo.
 Von Uexkull usa o termo 'Umwelt' para se referir a esses mundos vividos relativos. Ele os apresenta como nos quadros seguintes de um prado como podemos vê-lo e, em seguida, abaixo, como pode parecer a uma abelha. A figura superior (de von Uexkull, 1957) representa o ambiente de uma abelha.


A figura inferior representa o Umwelt da mesma abelha, isto é, o mundo como ele aparece para a abelha através da estrutura do sistema perceptivo da abelha. A noção é que os organismos são construídos para perceber objetos que são significativos para eles. É conjectural, sim, mas com base em uma delineação completa das pistas perceptivas a que as abelhas respondem. As abelhas pousam em figuras que exibem formas quebradas, como estrelas e cruzes, e evitam formas compactas, como círculos e quadrados. A figura... 

"...que foi projetada nessa base, contrasta o ambiente de uma abelha com seu Umwelt. A abelha é vista em seu ambiente, um campo de florescência, no qual florescem flores alternadas com brotos. Se nos colocamos no lugar da abelha e olhamos o campo do ponto de vista de seu Umwelt, as flores são transformadas em estrelas ou cruzes de acordo com sua forma, e os brotos assumem a forma ininterrupta dos círculos. O significado biológico desta qualidade recentemente descoberta nas abelhas é evidente. Somente as flores florescem têm um significado para elas; Os botões não."(Uexküll, 1957).

O fato é que no caso da espécie humana o Umwelt tem incluído novos signos à medida que nosso conhecimento a respeito do mundo aumenta. Isso poderia ser uma forma de Dilatação do Umwelt humano. Por exemplo, nós não vemos todas frequências das ondas eletromagnéticas, apenas as que estão do espectro luminoso. Mas conseguimos utiliza-las nos sistemas de comunicação eletromagnéticos (rádio, tv, telefonia móvel, radar, etc).Interessante é que o Umwelt está perfeitamente adaptado àquilo que Uexküll chama de "Natur", que é a mesma Realidade Última. Pelo menos é o que eu deduzo dos estudos feitos até aqui.

Há uma metáfora sobre o Umwelt e Natur que os compara com um compositor que escuta uma música de sua autoria tocada através de instrumentos que foram por ele mesmo construídos. Interessante, não é ? Ouça, logo abaixo, este concerto de Johann Sebastian Bach (Brandenburg n 06), e perceba como ele articula os diferentes sons dos instrumentos de uma forma harmônica e integrada, como se fosse uma conversa entre eles... imagine a "Natur" fazendo isso com as plantas e o Umwelt dos animais.




O próprio Uexküll desenvolve uma teoria do signo que ele denomina de doutrina do significado. Para ele o SIGNO é o resultado da combinação de um UTILIZADOR DE SIGNIFICADO com um PORTADOR DE SIGNIFICADO. Sendo que o primeiro refere-se a um sensor biológico ( transdutor ) e o segundo são fenômenos físicos passíveis de medição pelo investigador. Já que se trata de uma investigação biológica, é difícil que o investigador possa perguntar ao animal o que ele está "sentindo" com o fenômeno... (Só o Dr Dolitle conseguiria)

"Nesta Teoria de composição, as propriedades de nosso Umwelt e nossos orgãos sensórios são também compostos uns para os outros. Podemos dizer que nossos olhos (como utilizadores de significado) são "complementares" ao Sol emissor de luz, extamente como o Sol (como portador de significado) refere-se aos nossos olhos doadores da visão." (Thure von Uexkül, 1992)

Este assunto foi desenvolvido em aula; a apresentação dos slides estão disponíveis no link abaixo: